
A gripe aviária foi o tema do CB.Agro — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília — desta sexta-feira (13/6), após nova suspeita da doença, registrada na quinta-feira (12/6), no Zoológico de Brasília, em um emu. Jonas Brand, epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), falou aos jornalistas Roberto Fonseca e Sibele Negromonte sobre o caso e sobre as chances (pequenas, segundo ele) de o vírus mutar e infectar pessoas.
Qual o cenário epidemiológico da gripe aviária?
A doença surgiu no fim da década de 1990, no sudeste asiático, e se espalhou pelo mundo. É causada por um vírus com alta taxa de mortalidade em aves e que, em seguida, atingiu a Europa e a África. Em 2023, ela chegou à América, primeiro aos Estados Unidos. Em pouco tempo, o vírus se espalhou por todo o continente, trazido por aves migratórias, e chegou ao sul do Brasil. Agora, ele começa a ser transmitido no interior do país. Nos próximos meses, devem ocorrer novos casos no país, trazidos por essas aves migratórias. No Centro-Oeste, existem rotas que são usadas por elas, mas a principal é pelo litoral.
O que diz o protocolo sobre a suspeita de contaminação de um emu, no Zoológico de Brasília? O que deve ser feito em relação aos outros animais do Zoo?
O Distrito Federal segue protocolos rígidos e alinhados aos do Ministério da Agricultura. O Brasil é visto como um país de referência na produção mundial de aves. Somos um dos grandes produtores, tanto de carne de frango quanto de ovos. Não será preciso abater animais do zoológico, mas, sim, isolá-los. O local foi fechado e estão em andamento ações de vigilância para evitar que outros animais se infectem, pois a taxa de letalidade entre eles é bastante alta, dependendo da espécie.
Existe risco de contaminação em humanos?
Existe a possibilidade, mas não há necessidade de alarme. A preocupação tem que ser com as pessoas que manipulam aves, trabalham em granjas e podem se expor a animais doentes. Essas pessoas têm que elevar o nível de biossegurança, com o uso de máscara e de óculos, e evitar a exposição prolongada a esses animais, para reduzir as chances de contato com o vírus. Qualquer suspeita de animal ou ave contaminada deve ser notificada ao sistema de defesa agropecuária do Distrito Federal para investigação, mas, neste momento, não há risco iminente para seres humanos.
Qual a importância da vacinação contra a gripe?
É importante se vacinar, pois não queremos que nenhum vírus circule. Quanto menos circulação de vírus influenza na comunidade, menos chance de o vírus mutar. O Brasil tem tecnologia para produzir a vacina contra influenza. Isso nos coloca em uma condição mais favorável do que quando ocorreu a pandemia de covid-19, quando não tínhamos tecnologia para produzir a vacina. No caso da influenza, temos condições de produzir imunizante se o vírus da gripe aviária mutar e começar infectar seres humanos.
Há risco de uma pandemia de gripe aviária?
Desde o fim dos anos 1990, existe a preocupação de que esse vírus consiga mutar e seja transmitido entre humanos. Aprendemos muito e agora temos condições de avançar e fortalecer a vigilância para que, caso esse vírus consiga mutar, tenhamos mais capacidade de resposta para evitar cenários tão complexos como vivemos com a covid-19.
Por que não há uma vacina contra a gripe aviária?
Não temos um vírus que infecte as pessoas, para justificar a produção de uma vacina. Se ele começar a ser transmitido entre seres humanos, não será o mesmo vírus que está nas aves. Será outro, que terá se adaptado a nós. Será contra ele que teremos de desenvolver uma vacina.
*Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho
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